Penso que a dificuldade em escutar não é algo exclusivo dos dias atuais, mas me parece que a velocidade com que as informações são transmitidas no mundo moderno acentuou o problema. Por exemplo: enviamos mensagens pelo celular a qualquer hora do dia e queremos respostas instantâneas.
O uso das redes sociais, embora tenha possibilitado às pessoas expressarem ativa e livremente suas vozes, é outro fator que trouxe como efeito colateral a diminuição da capacidade de escutar atentamente e com empatia. Como cada um tem o seu próprio espaço para divulgar suas ideias, fica a impressão de que devemos estar sempre prontos para disparar a nossa opinião, julgar as atitudes alheias, dar conselhos e soluções. Parece que tudo isso é esperado de nós e que precisamos fazê-lo rapidamente. E, o que é pior, sem refletir.
Sem falar do que acontece no mundo organizacional, em que o constante aumento da pressão por resultados faz as pessoas cada vez mais ficarem aceleradas e estressadas.
Essa urgência nos toma um tempo imenso. Acabamos sobrecarregados, sem espaço para dedicar atenção de qualidade às pessoas com quem convivemos. Na verdade, não temos tido tempo sequer para nós mesmos.
Além dos danos que a falta de escuta traz para as relações de um modo geral, quando se trata especificamente de um relacionamento de mentoring essa inabilidade é algo impossível de admitir. Mentor/a e mentorado/a precisam saber escutar − e escutar de maneira ativa. Se ainda não conhece o conceito de escuta ativa, recomendo a leitura deste artigo.
Engana-se quem pensa que a escuta faz mais falta ao/à mentorado/a. Para o/a mentor/a, essa é uma das principais qualidades. É que o/a mentor/a precisa entender a fundo cada mentorado/a dentro das suas particularidades e necessidades para, através de perguntas e reflexões, fazê-lo/a encontrar suas próprias soluções, seus caminhos. E isso só é plenamente possível com a prática da escuta ativa.
Por isso costumo dizer que a escuta é o combustível do aconselhamento.
Mas, se estamos perdendo o hábito de escutar as pessoas no nosso dia-a-dia, como vamos fazer isso com nossos mentorados?
É preciso muita disciplina e autocontrole.
A seguir, compartilho algumas práticas que me ajudaram nesse desafio.
- É recomendável tirar de cena qualquer aparelho que possa desviar nossa atenção, como celular e computador. Se for o caso, deixar avisos na porta, no estilo “Em atendimento”, é uma prática já convencional, mas não custa relembrar.
- Focar no momento que se está vivendo com o outro. Deve-se estar ali presente exclusivamente para ele.
- Controlar-se para não fazer julgamentos é importantíssimo e ajuda a não usar “filtros” para o que se ouve.
- Escutar ativamente não significa ficar totalmente calado/a. Mas não se pode interromper o outro a todo instante. Interrupção, só se for realmente necessário para compreender o que se ouve.
- Paciência e autocontrole são fundamentais. Oferecer precipitadamente respostas ao/à mentorado/a, ao invés de provocá-lo/a com perguntas reflexivas, é um erro comum que costuma atrapalhar o desenvolvimento dele/a. Saiba mais sobre isso neste artigo.
- É muito importante dar um intervalo entre atendimentos realizados em um mesmo dia. Do contrário, é possível que você entre no encontro seguinte com a mente ainda digerindo o conteúdo do encontro anterior.
Além de ser vital para o processo de aconselhamento, a escuta ativa também tem o poder de fazer o/a mentorado/a se sentir acolhido/a. Quem não se sente bem ao receber atenção integral e verdadeira?
A aceitação é uma atitude básica dos verdadeiros mentores e, junto com a escuta ativa e o compartilhamento de experiências pessoais pelo/a mentor/a, contribui para o desenvolvimento de uma conexão autêntica e forte entre mentor/a e mentorado/a. E isso é fundamental para o êxito do processo de mentoring!
E você? Tem praticado a escuta ativa?