Já fui professor e sei o quanto é desafiador conquistar o interesse dos alunos, principalmente quando eles têm outras obrigações a cumprir. No Brasil, dentre os estudantes entre 15 e 17 anos, 1,3 milhão deixaram as salas de aula sem concluir o ensino médio no ano de 2015, de acordo com o estudo “Aprendizagem em Foco” realizado pelo Instituto Unibanco o ano passado (2016).
O estudo foi feito com base nos dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e do Ministério da Educação (MEC) e mostra que a maior parte desses adolescentes vem de famílias de baixa renda e trocou a escola para trabalhar e, no caso das meninas, por conta de uma gravidez precoce. Além desses fatores, a falta de interesse pelos estudos, consequência da baixa qualidade do ensino, é uma das razões apontadas para o abandono da vida escolar.
Diante desse quadro, fico imaginando o quão difícil deve ser para os professores de escolas públicas, onde a evasão é maior, ensinar tendo que lidar com tantos fatores externos influenciando negativamente no interesse e no desempenho de seus alunos. Minha experiência e também leituras e pesquisas nessa área me mostram que oferecer aos jovens em situação de vulnerabilidade um suporte adequado pode trazer ótimos resultados. Quando falo em suporte adequado, estou me referindo a atenção, aconselhamento, orientação e exemplo.
Que tipo de relação pode proporcionar esse suporte a um jovem em situação de vulnerabilidade social?
Não tenho como deixar de pensar no mentoring para esse fim. E vejo o exemplo da “Ombusdman Educational Services”, nos Estados Unidos, que utiliza o mentoring para promover a reinserção às salas de aula de jovens entre 14 e 21 anos. Para isso, os estudantes do Ombudsman contam com o suporte de um professor mentor que os auxilia no desenvolvimento acadêmico, social e profissional.
“O maior benefício do meu trabalho é ver nossos estudantes terem êxito. Recentemente, recebi a visita de uma ex-aluna do Ombusdman que tinha dificuldades financeiras e problemas em casa, algo que eu compreendia bem. Na época, fiz o que podia para que ela recebesse a educação que merecia. Hoje, ela tem um diploma universitário, um ótimo trabalho e uma casa própria”, relata Johnell Williams, diretor esportivo no Ombudsman Chicago West.
A disposição de Johnell Williams de contribuir para o crescimento de seus alunos e a satisfação em vê-los atingirem suas metas e se desenvolverem é um bom exemplo de como deve atuar um professor mentor. (Veja o depoimento completo dele aqui.) Se fosse replicado no Brasil, o modelo de ensino com suporte de mentoring desenvolvido pela Ombudsman certamente teria forte impacto no combate à evasão escolar, em especial a do grupo de jovens de baixa renda descrito na pesquisa.
Nesse sentido, quais as características de um professor mentor que podem ajudar no engajamento dos alunos, em especial daqueles que se encontram em situação de vulnerabilidade social?
Uma das características básicas do mentor é aceitar sem prejulgamentos o outro a quem está disposto a ajudar. Se um professor age dessa maneira com seus alunos, certamente terá mais facilidade para lidar com eles, jovens em fase de construção da identidade, cheios de dúvidas e inseguranças;
Um professor com postura de mentor é aquele educador que não se limita a orientar seus alunos apenas na sala de aula, pois seu suporte vai além do conhecimento técnico. Sua disposição para ver o desenvolvimento real do outro é o que o move;
Mediante uma escuta atenta e ativa, o professor mentor oferece orientação e aconselhamento adequados ao jovem para que ele enfrente os desafios do dia-a-dia relacionados a questões familiares, afetivas, profissionais, de carreira, entre outros assuntos;
Numa relação de mentoring com seu aluno, o professor pode compartilhar suas próprias experiências caso tenha vivenciado dificuldades semelhantes às enfrentadas pelo jovem, e isso sem dúvida o ajudará bastante;
À medida que a relação entre aluno e professor se desenvolve, pode acontecer que o professor, ao perceber o crescimento e esforço do seu aluno, indique-o para oportunidades de estudo e trabalho;
O professor mentor também pode servir de modelo e inspiração para o aluno, que o admira pelo conhecimento e comportamento que tem. Se isso acontecer, será um estímulo a mais para o jovem.
Todos esses aspectos do mentoring são muito benéficos para o desenvolvimento dos jovens, principalmente para aqueles que não têm em seu convívio doméstico alguém para orientar, apoiar e seguir como exemplo. Mas ter um professor mentor é, sem dúvida, bom para o crescimento de qualquer pessoa.
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