Mentora profissional tem história de superação que é uma verdadeira lição de vida

Mentora profissional tem história de superação que é uma verdadeira lição de vida

Nesta edição da série Mentor Profissional, quem conversa com a gente é a mentora em gestão de pessoas Maria da Penha Silva dos Santos. Com 25 anos de carreira, ela já foi presidente da Associação Brasileira de Recursos Humanos − seccional Paraíba (ABRH−PB) e tem vasta experiência com o desenvolvimento de pessoas nas organizações. Na entrevista a seguir, Maria da Penha fala da vida profissional e conta como a menina negra e de origem pobre conseguiu superar os desafios e vencer na vida. Confira!

O texto é da jornalista Maíra Borges e a produção para a entrevista, da publicitária Virgínia Lima. Danilo Miquéias é o responsável pelo design.

Boa leitura!

Veja as outras entrevistas da série aqui no blog!


 

Penha, como era sua vida profissional antes do mentoring?

Minha formação é em psicologia com foco na área organizacional. Eu trabalho com gestão de pessoas há mais de 25 anos e, desde 1998, com consultoria para empresas na área de Recursos Humanos. Como mentora profissional, atuo desde 2016.

Como você teve acesso ao mentoring?

Eu gosto muito de conhecer pessoas, de saber quem são elas, de ouvir as pessoas em profundidade. É uma escuta ativa. E muita gente me dizia coisas do tipo: “Ah, Penha, você é minha mentora”, “muito bom conversar com você”, “você me influenciou”. Eu gostava muito de ouvir isso. Quando eu comecei a ler os artigos que Paulo Erlich escreve − eu acompanho o trabalho dele desde 2013 −, comecei a me identificar com o mentoring. Eu pensei: “É, eu acho que sou mentora”. Não é por acaso que as pessoas falam que eu sou mentora delas. Aí em 2015 eu fiz o curso com Paulo, que foi um divisor de águas na minha vida.

Como vem sendo sua atuação como mentora profissional?

Eu atendo principalmente profissionais de RH, empresários com foco em gestão de pessoas e liderança e profissionais liberais recém-formados ou os que desejam dar um “up” na carreira. Atualmente, eu estou com 4 clientes de mentoring: 3 empresários e uma profissional de RH. E está sendo um dos melhores momentos da minha vida profissional, porque a gente percebe a transformação das pessoas.

Você poderia falar um pouco sobre a relação com um dos seus mentorados?

Em 2016, logo depois da Formação em Mentoring, comecei a atuar com um cliente que até hoje está comigo. É um empresário de muito sucesso no segmento dele, mas tinha muita dificuldade em trabalhar a gestão de pessoas, especificamente  a liderança. Então eu fui trabalhando exatamente como liderar pessoas, trazendo o perfil dele para um perfil mais de CEO. Após alguns meses ele fez uma ação que foi bem impactante na organização: instituiu um café da manhã com os colaboradores para que ele pudesse ter esse momento de interação com toda a equipe, bater um papo… Quando esse momento aconteceu, os colaboradores, que tinham uma visão dele como um gestor  inacessível, puderam partilhar suas expectativas e sonhos de crescimento com a organização. Esse simples ato melhorou a produtividade e diversos outros indicadores da empresa. Hoje está oficializado o café da manhã com os colaboradores uma vez por mês.

Agora que o mentorado conseguiu vencer essa dificuldade de chegar mais perto dos colaboradores, qual o próximo desafio do processo de mentoring?

O empreendimento está crescendo e o número de gestores sob a liderança dele começa a crescer também. Então hoje a gente está conversando muito sobre a questão da liderança. A proposta é que ele seja mentor dos gestores, pois ele tem muita experiência no negócio e precisa multiplicar essa experiência dentro da organização. E a forma que ele adotou foi se preparar para ser mentor. Uma coisa é você treinar o colaborador para ele exercer uma função, outra coisa é você ser mentor do colaborador e permitir que ele adquira experiência com você.

Antes de ser mentora, eu treinava os líderes para serem multiplicadores. Hoje, eu os treino para serem mentores. Isso é um salto largo dentro da organização, pois o respeito vem como consequência desse processo.

Então o colaborador passar a ter um respeito maior e admiração pelo seu líder. Antes ele era treinado e cobrado. Hoje ele é mentorado e recebe feedbacks para crescer mais. Isso é muito satisfatório, pois quando o liderado cresce é um orgulho para o líder.

Você também já foi presidente da Associação Brasileira de Recursos Humanos da Paraíba (ABRH-PB). Como foi essa experiência?

Ser presidente de uma associação de recursos humanos foi uma experiência única, porque você começa a ser líder de voluntários. Como eu já tinha uma tendência a ser mentora, eu comecei minha gestão mentorando os voluntários, mesmo sem saber. Só depois que eu participei da formação com Paulo, quando eu estava saindo da ABRH. Então foi bem interessante porque eu comecei a fazer o processo de sucessão (da presidência) através de mentoria. A pessoa que eu mentorei diz que valeu muito para a vida dela ter passado por essa mentoria para ser líder.  

É diferente ser líder mentora de voluntários?

É bem diferente ser líder de voluntários, porque o voluntário tem que estar alinhado com o propósito da instituição e, se não tiver esse alinhamento, você não consegue. Quando você é voluntário, é voluntário por uma causa. Quando você é colaborador, você é por uma atividade. É diferente, porque o compromisso do voluntário tem que vir de dentro, do coração. O colaborador, não. Ele vai por uma razão, uma razão financeira, muitas vezes. Mentorar um profissional para ser voluntário de uma instituição é uma felicidade imensurável.

Você tem mais de 25 anos de carreira…  

Você sabe que eu tenho 61 anos e ainda estou no mercado, não é? As pessoas me perguntam: “Qual é o segredo para, nessa idade, ainda ter tanto pique e vontade de fazer tantas coisas?”. E eu respondo: “Não tem segredo. É só querer.” Se você quer, você vai. Se você não quer, você acha todas as desculpas. A idade é apenas um número. Eu estou num curso de MBA onde eu sou a mais experiente do grupo, de idade e de formação. E eles (os colegas de turma) dizem sempre: “Penha, você me inspira. Eu quero ser você quando crescer.” Desde criança que eu sou assim. Sempre quis aprender, crescer e continuo assim.

Nunca parei de fazer nada olhando o obstáculo. O obstáculo pra mim é apenas um dado que eu preciso ultrapassar. Só isso.

Você enfrentou muitos obstáculos ao longo da vida?

Eu posso contar uma experiência minha, pessoal? Minha mãe dizia: “Minha filha, aprenda a ler”. Ela foi analfabeta e meu pai também. Então ela dizia: “Aprenda a ler, porque, se você aprender, vai ter mais oportunidade na vida”. E eu levei tudo isso a sério. Então com 9 anos eu fui pra escola, mas não tinha um caderno e a professora não permitiu que eu entrasse na sala de aula. Só quando eu tivesse caderno é que eu deveria voltar. Depois de uns 3 ou 4 meses, mudou a professora e ela me deu um caderno. Aí eu passei o resto do ano com esse caderno que a professora me deu. Eu tenho até a capa dele ainda hoje e, quando eu escrever meu livro, eu vou colocar essa capa. No ano seguinte, não era a mesma professora. Aí o que se passou na minha cabeça? Que eu não ganharia o caderno novamente. E aí um dia, eu indo para casa, eu vi um homem catando lixo. Fiquei olhando. Quando cheguei em casa, eu contei a minha mãe que tinha visto aquele homem catando lixo, que tinha perguntado o que ele fazia com o lixo e ele disse que vendia. Meu pai dizia que não comprava caderno pra mim porque não tinha dinheiro. Então, quando o homem disse pra mim que ganhava dinheiro vendendo aquele material do lixo, eu achei que eu poderia ganhar dinheiro para comprar meu caderno. Pra você ter ideia de como eu queria aprender. Até uns 13 anos eu fiz isso: catei lixo para comprar caderno. Nunca parei de estudar. Então, quando um mentorado diz que não foi possível fazer algo, que não conseguiu, eu conto essa história.

Olhando para sua história, tem alguém que você considera mentor ou mentora?

A minha mãe. Ela é a pessoa mais especial pra mim. Ela não sabia ler, mas soube ensinar a gente a caminhar na vida. Ela sempre me contava histórias e eu vejo que aquelas histórias me estimularam a dar passos largos na minha vida. Ela sempre me dizia: “Acredite em você!”. Eu era uma criança pobre e negra, ou seja, tinha todas as características para sofrer preconceito. Mas eu nunca liguei para isso. Eu não sei o que é bullying. Eu me preocupava em ter conhecimento, tirar notas boas.

Você acha que consegue exercer essa mesma influência com seus filhos?

Eu tenho 4 filhos. O mais novo vai completar 30 anos. Estão todos formados e se inspiraram muito em mim. Eu acho que fui mais mentora do que mãe. Eu sou sempre a pessoa com quem eles sentam pra conversar sobre as dificuldades do lado profissional, do lado pessoal. Eles querem me ouvir. Eu sempre coloco minhas experiências. Eu não consigo ser só mãe, entende? Isso é um desafio pra mim. Sou sempre alguém que tem uma experiência e passa essa experiência pra eles. Principalmente quando se trata do âmbito profissional. Os amigos deles falam: “Eu queria que sua mãe fosse minha mãe”. (risos)


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