Descubra quais os limites entre mentoring autêntico e psicoterapia

Pessoas que estão passando por problemas psicoemocionais que as impedem de se desenvolver não são mentoráveis. Essa é uma realidade que mentores com qualquer formação precisam encarar e lidar.

Fico muito preocupado só de imaginar que alguns poderão não estar atentos a isso e, na tentativa de evitar a perda do cliente, passam por cima do que considero princípios de conduta ética do mentoring autêntico. Não se pode iniciar ou prosseguir um atendimento em mentoring autêntico se o/a mentorado/a não está em condições psicoemocionais para isso.

A consequência de insistir nessa situação são processos de mentoring sem resultados adequados e mentorados frustrados. Isso quando o/a mentorado/a não sai do processo pior do que entrou.

É uma situação alarmante, que leva a uma enorme descredibilização, manchando a imagem do mentoring oferecido por profissionais realmente sérios e comprometidos.

Para refletirmos sobre essa situação e trazer ensinamentos que podem ajudar mentores autênticos, você verá neste texto:

  • Diferenças entre mentoring autêntico e psicologia
  • Sinais de que o cliente de mentoring precisa de psicoterapia
  • O que fazer quando o cliente de mentoring apresenta questões psicoemocionais
  • Impactos positivos do mentoring para a saúde mental

As informações que trazemos aqui contam com a colaboração das psicólogas e mentoras autênticas Joan Rios e Suely Mendonça, por meio de suas falas durante um dos eventos do nosso programa Roda de Mentoring sobre os limites entre o mentoring e a psicologia (o vídeo está aqui), e da também psicóloga e mentora autêntica Teresa Macedo, que nos concedeu entrevista exclusiva sobre o assunto.

Continue a leitura se você é ou deseja ser um/a mentor/a autêntico/a que valoriza os princípios éticos desta abordagem. Vamos lá!

Diferenças entre mentoring autêntico e psicologia

Esse continuum de saúde emocional (veja imagem) que é muito esclarecedora para estabelecer os limites entre o mentoring autêntico e a psicologia.

No ponto extremo esquerdo, está o indivíduo com alta disfunção psicoemocional. É uma pessoa que pode estar passando por situações de síndrome de burnout, depressão, entre outras.

No ponto extremo direito, temos o indivíduo em estado de saúde plena, aquela pessoa que se encontra em equilíbrio emocional e, em relação a isso, sem obstáculos e capaz de ser potencializado para criar e executar um plano desenvolvimento pessoal e/ou profissional.

Pela imagem, rapidamente deduzimos que o campo à esquerda diz respeito à área de atuação da psicologia. Já o campo direito, refere-se ao trabalho de mentoring autêntico. E isso também é válido para o coaching.

Segundo Teresa Macedo, “são papéis muito diferentes. Na clínica, vou a fundo nas questões do paciente. Já a mentoria é mais pragmática. O mentoring é bem focado e objetivo e por isso o número de sessões é acordado antecipadamente. Já a psicoterapia só termina quando o paciente soluciona a queixa e isso é imprevisível.

Trazendo para a prática: uma pessoa com síndrome de burnout deve ser tratada com psicoterapia. Já uma pessoa que vê possibilidade ter uma síndrome de burnout e deseja impedir o avanço do problema ou mesmo uma pessoa que passou por ele e precisa evitar recaídas pode desenvolver mecanismos de defesa por meio de um processo de mentoria”.

Dito assim, vemos que há uma enorme diferença entre as duas abordagens. Mas perceba que estamos tratando de uma escala gradativa.

Existe um espaço, bem no centro da escala, onde psicologia e mentoring podem conviver. Isso significa que a pessoa não está com uma condição psicoemocional que a impeça de se desenvolver, mas não está potencializada para evoluir. E aí pode entrar o/a mentor/a, enquanto o/a psicoterapeuta continua o seu trabalho.

Sinais de que o cliente de mentoring precisa de psicoterapia

Como vimos, há casos em que os limites entre mentoring autêntico e psicologia são muito próximos e nem todos os mentores saberão com facilidade se estão ou não diante de um caso de pessoa não mentorável.

Para Teresa, há um sinal bem evidente que pode ajudar a diferenciar as situações:

“Quando a pessoa paralisa por conta de processos emocionais e não consegue mais avançar nas suas tarefas é um indicador muito forte de que ela precisa de ajuda psicológica. A questão afeta a saúde, o sono, o bem-estar, ela sente palpitação, falta de ar, não consegue produzir, não consegue entregar. Você nao precisa ser psicólogo para perceber, qualquer pessoa percebe que aquilo ali é um caso para a psicoterapia”.

A International Coaching Federation (ICF) desenvolveu uma lista com dez principais indicadores para encaminhar um cliente a um profissional de saúde mental. Em princípio essa lista foi elaborada para ajudar coaches, mas pode ser perfeitamente aplicada no mentoring autêntico. Veja a seguir:

  1. Seu cliente está demonstrando um declínio em sua habilidade de experimentar prazer ou um aumento de tristeza, desesperança, sensação de desamparo.
  2. Seu cliente tem pensamentos intrusivos ou não é capaz de se concentrar ou focar.
  3. Seu cliente não consegue dormir ou acorda no meio da noite e não consegue voltar a dormir ou dorme excessivamente.
  4. Seu cliente tem uma mudança em seu apetite: diminuição ou aumento no apetite.
  5. Seu cliente está se sentindo culpado porque outras pessoas sofreram ou morreram.
  6. Seu cliente tem sentimentos de desespero ou desesperança.
  7. Seu cliente está superalerta ou excessivamente cansado.
  8. Seu cliente teve aumento em irritabilidade ou acessos de raiva.
  9. Seu cliente tem comportamento impulsivo e arriscado.
  10. Seu cliente tem pensamentos de morte e/ou suicídio.

Atenção: Consulte a lista, pois nela estão informações complementares para compreender com precisão cada item.

Para quem não é psicólogo, Joan considera importante ter cuidado para não patologizar processos normais de mentorados que estão aptos, mas que estão apenas em um dia ruim. “É preciso que a gente tenha clareza para perceber que somos seres com variações de humor e ânimo. Isso é normal. Nem todos os dias estaremos no nosso máximo potencial”.

Está confuso/a? Entenda que desenvolver pessoas realmente é uma responsabilidade muito grande, por isso é fundamental buscar conhecimentos baseados em evidências ensinados por profissionais que tenham real e experiência prática no assunto.

Digo mais: quando decidimos atuar como mentores, é imprescindível aprender um método seguro e, ao começar a atender de fato, a supervisão com um/a mentor/a mais experiente é importantíssima para o/a iniciante ter segurança no processo.

O que fazer quando o cliente de mentoring apresenta questões psicoemocionais?

De acordo com o Código de Conduta Ética do/a Mentor/a Autêntico/a, deve-se interromper o processo de mentoring e recomendar à pessoa buscar suporte de um/a profissional da área de saúde mental. Uma vez que a pessoa tenha superado a questão emocional, ela poderá retomar o processo de desenvolvimento com seu/sua mentor/a.

Como disse, é nesse momento que profissionais devem agir de maneira ética, não dando continuidade aos processos de mentoring.

Inclusive, mesmo quando o/a mentor/a autêntico/a é também psicólogo/a, é preciso haver distinção dos papéis. Veja o que diz Teresa sobre isso.

“Mesmo eu sendo também psicóloga, a pessoa vai ter que escolher qual papel ela quer que eu desempenhe. Mesmo que não seja simultaneamente, eu não terei como ser psicóloga e depois mentora da mesma pessoa”.

Joan Rios chama atenção para o preconceito que ainda existe em buscar ajuda psicológica, o que pode acabar aumentando a dificuldade em estabelecer os limites entre mentoring autêntico e psicologia.

“Comigo já aconteceu de uma pessoa me procurar para um processo de mentoring, mas sua postura, a forma como ela se dirigia a mim e como ela necessitava do meu aval, mostravam claramente que ela queria que eu desempenhasse o papel de psicóloga, embora não admitisse”.

Suely Mendonça, psicóloga e mentora autêntico, vivenciou a situação oposta.

“Eu tive uma paciente na clínica psicológica que evoluiu a tal ponto que chegou um momento que ela ressignificou o trauma que havia sofrido e manifestou o desejo de atuar profissionalmente ajudando outras pessoas a não passarem pela mesma experiência que ela passou. Nesse ponto, ela quis que eu me tornasse sua mentora, mas, mesmo eu tendo formação para isso, a encaminhei para outro profissiona.l”

As psicólogas que consultamos foram unânimes em desaconselhar o desempenho dos papéis de mentor/a e psicólogo/a com a mesma pessoa, ainda que em momentos diferentes.

Elas também ressaltaram o quanto as duas abordagens são distintas no que diz respeito aos objetivos. Nunca um processo de mentoring autêntico poderá substituir um tratamento psicoterápico. E vice-versa.

Embora haja casos em que o quadro psicoemocional do indivíduo terá que ser tratado isoladamente antes do início de um processo de desenvolvimento com mentoring, há situações em que as duas abordagens podem se complementar, com o mentoring autêntico até mesmo contribuindo para a saúde mental do mentorado/a.

Veja a seguir.

Impactos positivos do mentoring para a saúde mental

Quando aplicado de maneira adequada, ou seja, por profissionais que dominam um método seguro e destinado a pessoas realmente aptas a se desenvolver, o mentoring autêntico pode trazer resultados impressionantes.

Como especialista muitos anos de experiência na área, posso atestar que essa abordagem tem efeitos incríveis que vão além do desenvolvimento técnico do/a mentorado/a. A começar com a experiência de autoconhecimento que é vivida logo no início da experiência de mentoring autêntico.

Outro belo exemplo é o desenvolvimento de soft skills, que colaboram para estabelecer relacionamentos harmônicos e uma atitude mais assertiva diante dos desafios da vida e do trabalho.

Além das soft skills, o mentoring pode contribuir muito para a autoestima. À medida que a pessoa vai se desenvolvendo e alcançando suas metas, a forma como ela se vê evolui bastante, no sentido positivo.

Há ainda ferramentas da psicologia que podem ser úteis em processos de mentoring autêntico.

Segundo Teresa, “há vários instrumentos de autoconhecimento da psicologia que podem ser aplicados no mentoring. Por exemplo: o método de avaliação comportamental DISC, o teste VIA (da psicologia positiva), MBTI, MPP, entre outros. Agora teste psicológico só psicólogos podem aplicar.”

Fica claro que atuar como mentor/a autêntico/a é uma atividade que exige muita responsabilidade e compromisso ético.

Sem os valores e princípios que regem o mentoring autêntico, o processo não alcançará seu potencial máximo, podendo inclusive causar prejuízos para os mentorados.

Por isso, se você pensa em desenvolver pessoas por meio dessa abordagem, saiba que o primeiro passo é aprender um método seguro, com resultados comprovados e fundamentado em valores éticos.

Conheça nossa e, em caso de dúvidas, entre em contato.

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