Com mentoring e gestão do conhecimento, ANAC conquista prêmio internacional

Com mentoring e gestão do conhecimento, ANAC conquista prêmio internacional

A ANAC, Agência Nacional de Aviação Civil, deu um salto quando começou a trabalhar a gestão do conhecimento da organização a ponto de conquistar o 1º lugar no Prêmio de Excelência em Gestão do Conhecimento e Capital Intelectual da Irlanda do Norte em 2016. Nesta entrevista, Cleide Gomes, a então gestora do conhecimento da Superintendência de Aeronavegabilidade da ANAC conta como tudo aconteceu e qual a participação do mentoring como uma das práticas que mais se destacou nesse processo. Ela fala também como foi sua transição do serviço público para a carreira independente de coach, mentora e consultora. Confira!

A produção da entrevista é de Virgínia Lima com texto de Maíra Borges e design de Danilo Miquéias.

Veja as outras entrevistas da série Mentor Profissional aqui no blog!

Boa leitura!


Com mentoring e gestão do conhecimento, ANAC conquista prêmio internacional

Cleide, você pode falar um pouco da sua formação e trajetória profissional?

Eu fiz licenciatura plena em pedagogia, depois fiz especialização em educação a distância e em administração e organização de eventos e agora estou concluindo um MBA em gestão de pessoas com coaching. Como pedagoga organizacional, foquei minha carreira em desenvolver pessoas. Entrei para o serviço público federal, atuei em diferentes órgãos, entre eles a Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC), onde permaneci desde a criação até maio de 2016. Hoje sou coach, consultora e mentora de coaches e de líderes, e mentora em gestão do conhecimento.

Como você teve acesso ao mentoring?

Sempre ouvi falar no mentoring e posso dizer que na minha carreira e na minha vida pessoal eu tive excelentes mentores, formais e informais. Só que eu não tinha tanta informação técnica sobre o que era a metodologia, como funcionava. E daí na ANAC, em 2011, nós recebemos um novo superintendente, o Dino Ishikura, que nos pediu para implantar a gestão do conhecimento. Aí eu fui estudar sobre isso e dentre as várias práticas que nós temos, o mentoring e o coaching despertaram muito meu interesse!

Como foi desenvolvido o mentoring dentro da ANAC?

A gente resolveu formalizar as iniciativas de mentoring que havia. Então começamos com o programa em uma área muito técnica, com um profissional que teria dois anos para se aposentar e não tinha sucessores prontos. Então a gente desenhou esse programa e começou com ele. Escolhemos um possível sucessor e deu muito certo. Durante a realização desse programa piloto, eu acompanhei a dupla de mentor e mentorado, e para a nossa alegria, e em menos de 4 meses de mentoria, o mentorado já estava participando de grupos internacionais, representando a autoridade civil brasileira no exterior. A partir daí, começamos a investir ainda mais no mentoring. Eu, por ter adquirido os conhecimentos de forma autodidata, falava que precisava de uma formação. Eu sabia que podia aprender mais sobre o assunto e multiplicar esses conhecimentos. Foi quando eu descobri a formação do Paulo e fui autorizada pela ANAC a fazer.   

Alguns meses antes da Formação, nós também implementamos um programa de gestão do conhecimento com foco no desenvolvimento de uma das área da Superintendência de Aeronavegabilidade, a Gerência Técnica do Registro Aeronáutico Brasileiro. O superintendente estava muito preocupado, pois estava chegando uma leva de novos servidores que não tinham conhecimento necessário para fazer a análise dos processos. Para você ter uma ideia, quando você compra um carro, você vai no Detran, registra e recebe aquele certificado, que permite você andar com o veículo. Com o avião é a mesma coisa. Então os processos estavam acumulando muito porque não tinha gente suficiente para analisá-los, e os profissionais que tinham conhecimento desses processo, muitos deles já tinham mais de 30 anos de serviço e podiam ir embora a qualquer hora. Então nós focamos em um programa específico para essa área, utilizando principalmente as estratégias de mentoring, storytelling, coaching e lições aprendidas. Era muito importante que a gente diminuísse o prazo para emitir esses certificados, que chegou em determinado momento a quase e 40 dias. O programa foi muito acelerado, a gente trabalhou focado na formação desses mentores e o resultado foi excelente, pois conseguimos passar a  emitir esses certificados com 2 dias e meio.

Você encontrou alguma resistência ao implantar o programa de mentoring?

O programa tinha como principais objetivos formar os novos servidores, diminuir o tempo de emissão dos certificados e prestar um melhor serviço para o cidadão. Houve todo um trabalho de convencimento dos servidores, que no começo não se sensibilizaram muito em compartilhar o que sabiam, porque tinham receio de serem substituídos, algo muito comum no mundo corporativo. Então com muita sensibilização, com muitas oficinas, workshops, reuniões explicando para os servidores a importância de deixar um legado para a instituição, eu falava pra eles que eles iriam embora um dia, assim como eu também, mas o conhecimento deles iria perenizar na instituição, pois os novos servidores dariam continuidade ao que eles haviam começado. Essa sensibilização fez uma diferença incrível e eles toparam. Com esse trabalho, a gente recebeu um prêmio com o apoio do meu mentor em gestão do conhecimento, o Fábio Ferreira Batista, pós-doutor na área. Quando ele viu os resultados dessa iniciativa, falou: ‘Cleide, vamos submeter esse case para o prêmio de gestão do capital intelectual da Irlanda do Norte’. Submetemos e conquistamos o 1º lugar no Prêmio de Excelência em Gestão do Conhecimento e Capital Intelectual (Knowledge Management and Intellectual Capital Excellence Awards).  

Tudo isso foi antes de você passar por um curso formal de mentoring…

Somente em março de 2016 eu consegui fazer a Formação em Mentoring do Paulo, pois no serviço público as aprovações de processos de capacitação costumam levar muito tempo. Mas quando eu finalmente consegui participar, eu constatei que o que tínhamos feito intuitivamente estava no caminho certo. Pesquisando as informações sobre mentoria na internet eu também cheguei a essa conclusão e o site do Paulo foi um dos que eu consultei, inclusive no projeto eu uso citações dele. Depois que tudo isso aconteceu, a ANAC colocou a gestão do conhecimento como um objetivo estratégico de toda a Agência. Por aí você vê a importância do trabalho desenvolvido e hoje eu ainda bato na tecla com o meu sucessor, a pessoa que me substituiu, para ele investir em mentoring, em coaching e em outras estratégias, porque são elas que vão fazer diferença na Agência.

Desde que você deixou a ANAC, como foi continuado o trabalho de gestão do conhecimento que você iniciou?

Eu saí da ANAC em maio de 2016, só que tive a oportunidade de preparar meu sucessor, e o mentoring foi a estratégia utilizada de uma maneira informal.

Eu acredito muito no poder dessa metodologia e tenho certeza que ela é um verdadeiro diferencial para qualquer instituição que queira perenizar o conhecimento.

As pessoas querem ver resultado, não é? Com todo esse trabalho, conseguimos reduzir o tempo de atendimento, então o usuário, o cliente fica mais satisfeito. As companhias aéreas ficaram muito satisfeitas com o resultado, porque avião parado é dinheiro parado para eles. Se eles não têm o certificado e o avião não voa, então é dinheiro parado. E nós elaboramos na época uma série de procedimentos para o setor com base no conhecimento daqueles mentores, que estão lá há tantos anos. Nem sei se estão lá ainda. Mas hoje a área não fica mais na mão, pois os conhecimentos estão todos registrados.

Nós temos tantos cases interessantes. Um deles é importante comentar: a ex-gerente de uma área que escreveu um livro principalmente para ajudar a sucessora dela. Ela publicou o livro, que inclusive eu tenho, e quando ela se aposentou deixou um legado. Um material com tudo escrito: o que fazer, o que não fazer, passo-a-passo, muitas dicas, histórias e causos interessantes.

E como foi sua transição do serviço público para se tornar uma profissional autônoma?

Eu sempre trabalhei com desenvolvimento de pessoas. Eu sou realmente apaixonada por conhecimento, por gente e pela aviação e meu sonho foi justamente, quando saísse do serviço público federal, continuar trabalhando com desenvolvimento de pessoas, e deu certo! Meus amigos sempre me incentivaram: ‘Cleide, você não pode parar não. Você tem que continuar. Você tem muito a contribuir’. E eu concordo. Eu me sinto muito produtiva, eu adoro o que eu faço. Então, com base em todas essas experiências que eu tive ao longo da minha carreira, ao me aposentar, falei: ‘Gente, eu preciso continuar’. Daí montei minha empresa, a “Cleide Gomes – Coaching & Consulting”, e eu trabalho com coaching e mentoring. São as duas estratégias que eu mais utilizo. Também sou consultora em gestão do conhecimento. Se alguém quer implementar a gestão do conhecimento, eu ajudo. Eu desenvolvi o programa de mentoria em gestão do conhecimento, ensinando por onde começar e como fazer dar certo.

Na prática, como você distingue se o cliente precisa de coaching ou mentoring?

É interessante porque desde o início os meus clientes vieram buscar coaching, mas teve um deles que foi um jovem que tinha acabado de se formar e tinha assumido a direção da empresa da família, mas ele não sabia gerir pessoas. Aí ele me procurou para fazer coaching. Só que na primeira sessão de alinhamento e clareza que fizemos, eu falei: ‘Olha, o que você mais precisa neste momento é de uma mentoria’. Ele falava: ‘Eu não sei ser líder, eu quero aprender a ser gestor de pessoas, aprender a me comunicar melhor com elas no mundo corporativo’. Daí o que eu fiz, montei pra ele um programa de mentoring em liderança e trabalhei todos os pontos que ele tinha mais necessidade. Ficamos aí uns 4 meses trabalhando online e também tivemos sessão presencial e foi muito positivo. Recentemente, ele me mandou uma mensagem dizendo que estava super feliz e que se sentia mais seguro no desenvolvimento de suas atribuições, e que conseguiu, juntamente com a equipe, passar por este momento de crise que vive nosso país, tendo um aumento do faturamento da empresa. Eu me senti muito realizada  em saber que a mentoria com ele deu super certo. E sempre que ele tem dúvida, ele volta a falar comigo. Assim, meio que a gente vira uma eterna mentora, porque acontece aquilo que o Paulo aborda: você extrapola os laços profissionais na mentoria. Muitas vezes isso acontece e você acaba se tornando amiga do seu mentorado. E ele tem tanta confiança em você que o que ele não quer perguntar para os outros ele vem falar contigo. E isso faz meu coração transbordar de alegria!

Em outro momento, eu fui procurada por uma outra pessoa que queria fazer coaching, só que o que ela queria era desenvolver as habilidades gerenciais dela, pois ela também tinha assumido um cargo de liderança. Daí eu falei: ‘Olha, vamos fazer o seguinte. Vou trabalhar com você com o coaching e quando eu sentir necessidade eu vou entrar com o mentoring’. A gente já tinha trabalhado diversas habilidades de liderança, mas ela continuava muito insegura. Então, eu falei: ‘A partir daqui, nós vamos migrar para outra metodologia que se chama mentoring’. Expliquei pra ela que, com a minha experiência como gestora por muitos anos, eu vivi uma situação muito semelhante a que ela estava passando. Daí contei toda a situação e o que eu fiz na época para resolver esse impasse. Ora, se eu tenho a resposta, por que não compartilhar? Hoje já há várias escolas que defendem o uso combinado das duas metodologias desde que você informe ao cliente.

Como mentor, a gente encurta caminhos, a gente dá a mão para aquele profissional e diz ‘vem por aqui que vai dar certo’.

Pra mim, foi libertador saber que eu podia fazer isso. Paulo foi um dos responsáveis por ajudar a me libertar, porque quando você sai da escola de coaching você aprende que coaching é coaching e não pode misturar. E não é verdade.

Então foi libertador saber que eu podia trabalhar com as duas metodologias (mentoring e coaching).

E daí os coaches começaram a me procurar: ‘Cleide, como é que você faz isso?’. Aí eu percebi uma necessidade do mercado. Foi quando eu lancei o programa ‘Empreenda o seu sucesso’, que tem coaching individual, coaching em que eu preparo a pessoa para a aposentadoria, o coaching em grupo e a mentoria individual e em grupo para coaches e para líderes. O profissional, quando sai da escola de coaching, sai com muita teoria na cabeça e muitas ferramentas. Só que ele se sente inseguro para aplicar isso tudo. Às vezes, ele não sabe nem por onde começar. Então, é aí que eu entro com a mentoria específica para coaches em início de carreira.

E deve haver uma demanda grande…

Olha, eu comecei no ano passado e já estou no meu terceiro grupo de mentoria, que começou em janeiro, e também estou com duas mentoradas que optaram pelo mentoring individual.

E você? Qual sua experiência como mentorada?

Eu acredito tanto na mentoria que eu também tenho os meus mentores. O Fábio, na área de Gestão do Conhecimento, a Dani Teixeira, mentora de coaches, com quem eu participo de uma mentoria em grupo, o José Roberto Marques, o Geronimo Theml, e o Paulo são alguns dos meus mentores hoje, e tenho muitos outros… Inclusive, foi durante o curso com o Paulo, durante um exercício em sala de aula, que eu tracei meu plano para me tornar uma mentora. E olha como deu certo! Hoje também sou mentora voluntária em projetos sociais e a cada dia descubro novas formas de ajudar mais e mais pessoas a serem melhores. Como dizia  Cora Coralina, “feliz aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina.” Também gostaria de citar alguns dos meus mentores profissionais e também amigos: Cláudio Passos Simão, Dino Ishikura, José Renato Oliveira e muitos outros.

E os mentores informais…

Nossa! Vários… A minha mãe, meu pai, líderes, professores, meu marido, meu filho e irmãos sempre foram grandes mentores para mim. Sabe aquela pessoa que te direciona, que te coloca na proa correta? Isso é muito bom, pois ter alguém que nos diz, mesmo que doa na hora, ‘faça isso ou não faça aquilo’ é simplesmente maravilhoso! Na minha carreira profissional tive também pessoas que me mostraram o caminho e me ensinaram formas mais simples de chegar aonde eu queria chegar, encurtando minhas rotas.

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