Existe uma imensa confusão conceitual entre Coaching e Mentoring (ou Mentoria). A razão é simples: há mesmo grandes semelhanças entre essas relações ou processos de desenvolvimento. Mas temos como reconhecer diferenças. Eu lhe confesso com toda sinceridade: as informações que eu colhia na literatura, em palestras e em cursos, apesar de valiosas, nunca me deixavam completamente convencido dessas diferenças, com aquela sensação de “entendi, compreendi”.
Por isso resolvi perseguir uma explicação. Uma síntese do resultado dessa iniciativa é o que vou aqui compartilhar com você. Desejo que lhe dê luzes para desvendar esse “mistério”. Como há diversos tipos de Mentoring e de Coaching, escolhi focar este artigo no contexto corporativo, estabelecendo a distinção entre o Mentoring que ocorre entre pessoas de uma mesma organização e o Coaching executivo oferecido por profissionais de fora da organização.
MENTORING
É um processo que acontece em relacionamentos interpessoais. Um indivíduo que tem conhecimento e experiência em determinada área (mentor) utiliza voluntariamente essa bagagem para estimular o desenvolvimento de outro (mentorado). Esse apoio pode ocorrer em diversas dimensões: no domínio sobre uma determinada área de conhecimento ou atividade, na segurança emocional para pensar e agir ou na socialização do mentorado em um meio em que ele precisa atuar. Quando o relacionamento nasce da aproximação espontânea entre as pessoas, dizemos que se trata de Mentoring informal, espontâneo ou natural. Quando é estimulado e de alguma forma estruturado por uma organização ou praticado por um mentor profissional, chamamos de Mentoring formal.
COACHING
Para a ICF, “Coaching é uma parceria entre o coach (profissional treinado para entregar o processo de Coaching) e o coachee (pessoa que passará pelo processo de Coaching), em um processo estimulante e criativo que o inspira a maximizar o seu potencial pessoal e profissional, na busca do alcance dos seus objetivos e metas, por meio do desenvolvimento de novos e mais efetivos comportamentos”. O coach utiliza perguntas instigantes, feedback e escuta ativa. Deve ter uma atitude de aceitação do coachee, com quem é fundamental desenvolver confiança.
MENTORING E COACHING: DIFERENÇAS
Agora que definimos mentoring e coaching, chegou a hora de expor as principais diferenças entre eles:
• O mentor usa conhecimento e experiência específicos – de profissão, de aspectos da vida – que atendem às demandas do mentorado. Ocorre transmissão dessa bagagem para o mentorado, que vai uni-la ao saber que já possui, para se desenvolver. Já o coach usa seu conjunto de ferramentas para estimular o cliente a gerar soluções a partir da sabedoria do próprio cliente.
• O mentor que não passou por formação em Coaching provavelmente não dispõe da maioria das ferramentas do coach. Seu diferencial será o binômio conhecimento-experiência.
• O mentor organizacional é um voluntário que se dispõe a dedicar tempo e energia a outra pessoa, fora de um contexto do tipo “profissional e cliente” característico do Coaching.
•Pelo fato de atuar no mesmo ambiente ou contexto do mentorado, o mentor organizacional tem mais possibilidade participar e oferecer Proteção, Exposição-e-visibilidade e Patrocínio. O coach externo à organização fica distante dessa possibilidade.
• O Aconselhamento é raro ou ausente no Coaching. No Mentoring há maior liberdade para aconselhar (com os devidos cuidados) e dar exemplos de situações da vida pessoal e profissional.
• A maior possibilidade de convivência entre mentor e mentorado, inclusive fora do ambiente profissional, torna mais provável o surgimento (não obrigatório) da Confirmação e de situações de Abertura para o Relacionamento, podendo em vários casos levar à amizade. No Coaching, a Abertura para o Relacionamento fica mais restrita à necessidade de criar um rapport inicial, uma afinidade básica para que o relacionamento flua.
• O Papel de Modelo é um dos fundamentos do Mentoring. No Coaching não há foco nessa função.
CONCLUSÃO
No contexto organizacional, Mentoring pode ser mais abrangente que Coaching ou pode ser focado como um processo que expande possibilidades de desenvolvimento. Por outro lado, as ferramentas de Coaching podem ser utilíssimas para Mentoring. Exemplo disso ocorre no treinamento de mentores: ao lado de orientações sobre as funções específicas de Mentoring (principalmente aquelas que promovem maior conexão emocional no relacionamento), são fornecidos diversos recursos de Coaching.
Mas não há como definir em termos absolutos qual dos dois processos é o melhor para a organização. É preciso observar caso a caso aspectos como objetivos, custos, recursos disponíveis, prazo e até cultura organizacional. Desse modo se pode saber o que é mais aconselhável. Em relação ao desenvolvedor, considero ideal ser mentor e coach, aproveitando adequadamente o melhor de cada processo em favor de quem desenvolvemos.
Este artigo foi originalmente publicado na Revista Coaching Brasil em maio de 2015. Para ter acesso ao artigo completo, clique aqui.